quinta-feira, 5 de junho de 2014

Leio YA, e porque não?

                Volta e meia na comunidade da internet aparece para nós um artigo reclamando do gênero Young-adult. Já li tantos deles (ainda não sei bem o porquê) que quase sei uma fórmula de cor para compor tal coisa. É bem fácil: diga que os livros são bobos, compare tudo a Crepúsculo e diga que adultos são bobos por ler livros como esses e não livros “sérios”. Termine seu artigo citando um livro “literário” que você leu e refletindo sobre a infinitude da vida que deve ser apresentada para todos os adultos, porque uma leitura adulta traz muito mais profundidade, é claro. Para a receita ficar ainda mais completa, você ainda pode adicionar de brinde que literatura Young-adult é tudo bem para adolescentes, porque afinal de contas, são bobinhos mesmo e gostam dos romances e de não lidar com a vida real, etc. Ainda acrescente uma dose de sua escolha falando que “cada um lê o que quer”, mas só mesmo para não ofender muito.
                Acho incrível como todos esses artigos são escritos no mesmo padrão e forma, como se fossem pré-fabricados como aqueles bolos de caixinha (e dos bolos de caixinha ruins, ainda por cima). No final de contas, a pessoa que o escreve sabe pouco mais que nada, e tenho a leve impressão que a maioria delas esqueceu aquele conselho que todas as mães nos oferecem bem cedo na vida: “burro calado passa por sábio”. Incrivelmente – e talvez não tão surpreendentemente – a humanidade ainda não aprendeu a lição que só podemos reclamar ou comentar sobre coisas das quais nós entendemos.
                Acontece que na literatura de hoje, o Young-adult é um gênero em expansão. Para você que está perdido, Young-adult é mais uma classificação do que um gênero em si, e é chamado dessa maneira porque os protagonistas das histórias tem em geral entre 13 e 19 anos. Uma classificação mais para vendas do que para o gênero da literatura em si. De acordo com as vendas de mercado, na verdade, 55% das pessoas que compram livros do gênero Young-adult (YA, para encurtar) possuem mais de 19 anos. Não é surpreendente, porque não é uma restrição de idade – não importa o que as pessoas insistam em classificar.
                O YA abrange todos os tipos de ficção e gêneros imagináveis – distopias, romances, fantasia, ficção-científica, literário, romance histórico, ficção realista, e por aí vai. Se você está procurando um gênero, pode acreditar que irá achar um livro classificado como YA.  Além disso, o YA trata sobre muitos problemas ‘sérios’ da sociedade – muitas vezes, é o primeiro contato que os adolescentes tem com problemas sociais, e é também uma maneira de aprendizagem. Não há nada errado em ler os "livros de adulto", claro, porque eles também nos fazem refletir - mas no caso, YA também pode fazer. No foco principal, não há uma diferença.
                Há um milhão de razões para defender-se o YA – é um gênero abrangente, com milhões de possibilidades, nunca sendo limitado. A cada dia é recriado algo novo, e a mais recente campanha, criada pelos próprios autores de YA, foi a “We Want Diversity” – campanha voltada para ver mais personagens de diferentes raças, etnias, culturas, orientação sexual e muitas outras diversidades. Na literatura tradicional, é necessário manter um padrão – os críticos regem o que deve ser feito e o que não. Já em YA, as barreiras são quebradas e ninguém se limita a somente um tipo de ideia.
                Não pode-se dizer que depois 1500 páginas de Harry Potter não aprendemos nada. No entanto, é nessa tecla que continuam a bater os críticos – que com os YA e livros de crianças, nada se aprende. É preciso ler livros de ‘adulto’. Porém, pela análise, os temas dos livros de adultos não se diferem tanto assim – em “A Culpa é das Estrelas”, trata-se o tema do câncer, em “Eleanor & Park”, uma adolescente vivendo em lar abusivo, e muitos outros temas como doenças, o amor, a família, a escola e também a vida. Afinal, a literatura em si não foi criada com um objetivo além de questionar todos esses parâmetros da sociedade – qualquer escritor tem isso em mente. No fundo, YA não tem nada de diferente do que qualquer outro livro que você pegar. Para qualquer tema que você encontra em um “livro de adultos” posso facilmente indicar um YA que irá tratar da mesma coisa.
                “Mas, ah, Laura, é para adolescentes, não pode ser sério!”, meu filho, vamos aos poucos. Aos 18 anos uma pessoa ainda é considerada um adolescente mas adivinha – ela já pode votar, ter carro e decidir o que vai fazer PARA O RESTO DA VIDA DELA. Isso em todos os países do mundo. Agora vamos lá – você acha que os adolescentes também são isentos de problemas? Não podem ser – porque eles também vivem no meio dessa mesma sociedade nossa. Não é só porque alguém é um adolescente que vai ficar magicamente imune a racismo, sexismo, problemas na família, pais abusivos, câncer, uma reputação tresloucada na escola, bullying, etc. Aliás, é na adolescência que a maioria de nós aprende a lidar com esses problemas que iremos enfrentar na vida adulta. O que voltamos a conclusão – a literatura adolescente não é nem um pouco diferente da literatura adulta.
                “MAS EXISTE MÁGICA!!!!!! NÃO PODE SER SÉRIO!!!! ADULTOS!!! VIDA REAL!!!!111!!!” Olha, nem vou discutir com você. Vou roubar a coisa do protagonista muito odiado/adorado de A Culpa é das Estrelas e dizer – é uma porcaria duma metáfora. Não é só porque uma coisa possui magia ou algo fantástico que é imediatamente invalidada. Os X-Men, por exemplo, foram criados como um paralelo de como as pessoas na margem da sociedade são tratadas. Novamente, uma metáfora. Se você não é capaz de ver além desses elementos que tecnicamente não existem, vou encerrar meu argumento por aqui e possivelmente nunca mais dirigir a palavra a você. Sério, vá se educar e ler um livro. Mesmo.
                Esses dois últimos argumentos são os mais usados para desconstruir a literatura YA – mas ao mesmo tempo, não possuem nada de extraordinário em si. O fato é que a literatura YA está fazendo um tremendo sucesso por aí porque consegue tratar de problemas sérios e conectar-se aos adolescentes – que de qualquer maneira, um dia serão o futuro do nosso mundo. Há milhões de razões pelo gênero YA ser algo em crescimento e que merece muita atenção, não só porque inicia cada vez mais jovens na leitura, como também por incitar a mudança numa sociedade estática.
                Sério mesmo – dê uma chance aos YA. Tenho certeza que vai achar lá algo para ser aproveitado. E se você é mais um desses adultos que acha que merece um troféuzinho por não ter chorado em “A Culpa é das estrelas” ou que adultos e adolescentes deveriam envergonhar-se dessas leituras, sinto muito dizer – mas sua vez está ficando para trás. E para ser bem sincera, não vejo a hora dessa paranoia “adultesca” acabar de uma vez por todas.

De alguém que lê tanto Dickens quanto John Green e gosta de ambos,

Laura

ps: não achei um título decente à postagem, vai ficar por isso mesmo
ps2: para os interessados, aqui está o artigo ridículo que me convenceu a escrever esse texto enorme. Não tem cabimento para o quanto me deixou irritada. Só leiam se vocês quiserem ficar bem frustrados mesmo.

E como não poderia deixar de ser, deixo-vos com links importantíssimos para vocês poderem se educar mais nos tópicos de young-adult.


terça-feira, 26 de novembro de 2013

"Not my piece of Cake"

NOT MY PIECE OF CAKE

                A mais nova revolução nos aplicativos – e que tem deixado todo mundo falando o tempo todo, principalmente os homens – é o tal de Lulu. Se você é como eu e primeiramente achou que era alguma coisa a ver com o Lulu Santos, está redondamente enganado. Lulu é um aplicativo para dar notas a homens – sim, nota, como uma mercadoria.

É mais ou menos isso - Luluception.


                Pra começar, vou deixar bem claro que sou contra qualquer coisa que dê notas as pessoas – é claro, porque isso objetifica uma pessoa. É como chegar num mercado e perguntar “Você gostou dessa nova trakinas de farinha integral?” e você ser obrigado a responder que sua nota é 2, porque essa nova fórmula da bolacha é realmente uma merda, e tudo que você queria era a velha de volta – e não, você não gostou. Está entendendo onde eu quero chegar? É um mercado, exatamente igual – e dessa vez um mercado de homens.

                Agora voltando um pouco a situação – é claro que isso deixou todos os homens muitíssimos revoltados. Ontem mesmo um primo meu veio comentar do assunto comigo, sentindo-se ultrajado – e eu fui obrigada a calar a boca dele. Sabe porque? Porque é assim que as mulheres tem sentido a vida toda.
                Não diga, Laura! – você deve estar pensando. Pois digo sim: é exatamente assim que somos tratadas pelo universo em geral. Deixa eu contar uma pequena história – só minha, coisas que enfrentei na minha vida – e que ao mesmo tempo, pertencem a um monte de mulheres espalhadas por aí.

                Com sete anos, votaram na menina mais bonita da sala – os meninos. Meninas, obviamente, não poderiam opinar sobre o assunto. Fizeram uma medalha de papel. Com onze anos havia uma lista das meninas mais bonitas – incluindo a sala toda, os votos dados pelos meninos – que foi pregada na nossa sala de aula. Para todas as garotas verem. Com doze anos jogávamos “verdade, desafio, nota ou consequência” e toda vez que perguntavam nota para um dos garotos a pergunta era sempre relacionada ao rosto/seios de uma menina. Tínhamos doze anos, não estávamos nem com a cara formada ainda – e já recebendo notas.

                Isso tudo até os treze anos. Treze anos – a maioria de nós ainda brincando de bonecas, mas mesmo assim dolorosamente atentas aos que os outros iam falar de nós. Como iriam nos julgar. Sempre foi assim – os garotos dando notas pras meninas.

                Recebo notas desde o dia em que nasci. Todas as mulheres. Quem nunca ouviu de soslaio alguma tia ou amiga dos pais falando por trás – “ela não é muito bonita, coitada”, e você não tinha nem dez anos. Sabe o que importa numa criança? Ela ser feliz. Ela acreditar em Papai Noel e se empanturrar de bolo de chocolate aos sábados. Ela saber ler e escrever, ter uma educação, e responder “obrigadx” por favores. A risada de uma criança é a coisa que mais vai importar. Não a beleza.
                Só que a vida continua, e as meninas crescem. Com quinze anos, as listas pararam – ou pelo menos pararam de aparecer bem debaixo de nossos narizes. Ainda se fala, é claro – o ensino médio inteiro sabe quem tem a cara mais bonita, ou quem é a mais “fácil”, ou quem tem peitos maiores. Porque não importa – uma vez que cresceram dando notas, ninguém vai mais parar. Recebemos notas quando saímos na rua – nós, mulheres – assediadas por caras passantes, pedreiros, e o que vier. Recebemos assobios que não são bem vindos – e aquilo ali é uma nota, uma nota que a sociedade insiste em jogar na cara de todas as meninas.
                E assim nós aguentamos. Tanto as “feias” quanto as “bonitas” – as que receberam maior nota e as que não receberam. Se você estava na parte debaixo da lista, tinha vontade de arrancar seus cabelos e chorar. Se estava no topo, a primeira coisa a pensar era – e se eu cair? E se eu não for mais a mais bonita?

                E agora aproveito para dar o recado: isso aqui não é um concurso de Branca de Neve, para ver quem é mais bela do que eu ou do que as outras. Essas notas foram impostas – e nós como garotinhas, não fomos ensinadas porque tínhamos que contestá-las. Apenas a aceitávamos como se fosse a verdade divina divulgada pelo Espírito Santo na Terra – que os meninos sempre decidiriam quem é bonita ou não.

                Com essa história do Lulu, a coisa virou completamente de ponta cabeça. Agora são os homens os ofendidos – e vamos dizer que como não estão muito acostumados, a reviravolta é gigantesca. Homens proferindo ódio por todos os lugares porque receberam um “6”. Vou mais longe e dizer que provavelmente mereceu – e finalmente, a “vingança” das mulheres está vindo a tona. É claro que não foi proposital – mas sentir uma espetada dessa na sua pele não é fácil, não é?

                Espero que a coisa comece a mudar. Como os homens obviamente não gostaram de serem postos a nota e à venda, quem sabe venha uma iluminação divina mesmo e faça com que eles parem de fazer o mesmo com as mulheres. Como diz minha melhor amiga, “pimenta no dos outros não arde” – o que é bem verdade. E com as coisas ardendo em chamas nos olhos dos homens, agora quem sabe aprendem a respeitar mais um pouquinho. A parar com essa baboseira de “fulana é mais bonita que ciclana”. Pra começar que gosto é de cada um, né, e quem é você pra julgar universalmente tanto a fulana quanto a ciclana?

Mas agora, parece que essa palhaçada está acabando. Vai tarde, se me perguntar – as mulheres ganham mais auto-estima aos poucos e percebemos que a única pessoa que deve estar feliz com a nossa aparência somos nós mesma. Dane-se a sociedade, os parentes, e os garotos. Eles não vão ditar nada disso para nós.

                O que mais me deixou revoltada nessa história, na verdade, foi como essa babaquice desse aplicativo completamente obscureceu os frequentes casos de revenge porn que tem acontecido. Revenge porn, pra quem não sabe, é a “pornografia da vingança” – quando um ex/ou qualquer pessoa libera fotos íntimas da vítima para internet como ato de vingança. Esse caso me deixou com uma náusea imensa só de ler comentários. Uma das vítimas recentemente cometeu suicídio – e tudo que se via era “nossa, bem feito, quem mandou essa vadia ser burra?”.

                O fato é que não é burrice – frequentemente as fotos são liberadas por ex-namorados e opressores das garotas. Essas meninas também receberão notas – notas pelas fotos divulgadas, fora do controle delas. Elas confiaram nas pessoas, e essas pessoas a traíram – mas adivinha quem leva a culpa? Isso mesmo, essas meninas.

                E pior – pessoas julgando-as por terem tirado esse tipo de foto. Deixa eu explicar: cada um tem uma coisa de que gosta. Se ela gostou de tirar essas fotos, o problema é dela – e não é da sua conta. É propriedade dela, e sua vontade era para não divulgar para mais ninguém. Vou explicar de maneira mais simples: Eu odeio feijoada, por exemplo. Mas sei que muita gente gosta, por isso não estou impedindo ninguém de comer. Essas fotos são a feijoada – alguns gostam, alguns não, e os que não gostam não tem direito nenhum de opinar sobre as pessoas de opinião contrária.

Se pensarmos bem, isso na verdade se aplica a todas as coisas do mundo – religião, sexualidade, propriedade, etc. Quando homens julgam sobre o aborto, o problema não é deles – é das mulheres. São elas que ficam grávidas. Quando heterossexuais querem impedir a comunidade LGBTQA* de se casar – a opinião deles também não deveriam contar. Eles já podem se casar – opinem sobre o casamento hétero, então. Mas a nossa sociedade é tão estúpida que ateus dão opiniões sobre questões religiosas, religiosos nos gays, homens sobre o corpo das mulheres e assim por diante. Se cada um apenas se mantivesse no lugar que entende ou no lugar que pertence – acredite, o mundo estaria bem mais organizado.

                É a essência do provérbio inglês – “not my piece of cake”, ou seja, “não é meu pedaço de bolo”. Pode ser que você não goste desse bolo nem concorda com ele, mas porque está impedindo outras pessoas de gostarem dele? Como esses dias mesmo foi colocado no tumblr, esse tipo de coisa é como você chegar num restaurante, pedir um bolo e alguém completamente aleatório de outra mesa berrar: “GARÇON, CANCELE ESSE BOLO! EU NÃO POSSO EXPLICÁ-LO PARA MEUS FILHOS!”. O que é a coisa mais absurda desse mundo inteiro. E é claro, o pedaço de bolo metafórico serve para todas as coisas polêmicas da vida – casamento gay, fotos nuas, sites pornôs, etc. Poderia dar uma lista gigantesca de todas as coisas afetada por esse problema estúpido.


                Enfim, como eu disse em meu próprio twitter – começarei a levar esse Lulu a sério quando algum homem se suicidar pela nota que tirou. Por enquanto, temos milhares de meninas suicidando-se pelas notas que levaram na escola e na vida, e não em um aplicativo babaca – desculpem-me, mas vou ficar do lado das mulheres nessa questão.  E quem sabe assim, quando os garotos estão finalmente sentindo na pele o que é isso – quem sabe conseguimos parar de dar valor a essa coisa abstrata que é a beleza, e começar a ver o que realmente importa.


-L

ps: com essa história do aplicativo lembrei daquele que o Mark Zuckerberg criou antes do facebook, que mostra no filme "A Rede Social". Como a própria ex-namorada dele diz quando ele faz isso, é porque ele é um babaca. 
ps2: Sério, reclamar da nota que você está recebendo só te faz mais idiota. Por favor não faça isso se quer manter o mínimo da sua dignidade.
ps3: Como colocou a Lara Luccas em seu facebook - QUOTE:


Olha que curioso: eu tenho um perfil que eu chamo de corpo que habita o app Rua.

E eu sou avaliada constantemente. Nesse app e em todas, TODAS as outras redes. E na maioria eu não posso pedir pra sair. Não posso mandar uma mensagem e ter meu perfil livre de avaliações. E nesses apps não existem hashtags pré-definidas, os usuários escolhem na hora, sem limite de crueldade ou educação. Eles não respondem um breve questionário sobre mim antes de definir essas tags porque eles não precisam me conhecer pra me dar nota e me avaliar.



Vocês podem fazer isso no Lulu. E nem são assediados ou invadidos fisicamente.
Vocês podem simplesmente pedir pra sair.
Tá.
É fácil. Manda lá mandarem tirar e tchau.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Parece vitrola quebrada, mas não é

Antes de mais nada esse é mais um post sobre o feminismo. Eu sei leitor, eu sei: parece uma repetição infindável. Você se pergunta: mas outra vez? E o pior de tudo é que sou obrigada a responder: outra vez, meu querido. Outra vez.

Se vocês acham que são os únicos que se cansam disso, não são - todas nós nos cansamos. É como ser mãe, quase, quando você é obrigado a repetir a mesma coisa 10261281 vezes até que alguém entenda. Nós também cansamos de repetir a nós mesmas o tempo todo. É quase como ter um rádio quebrado, e todos os dias ter que acordar, ver alguma coisa e dizer: "não, veja bem, não é assim que funciona. o feminismo... etc etc". Nossa vida se torna uma repetição também, e ninguém gosta disso.

Mas o pior não é nem a repetição: é o fato de sermos OBRIGADAS a nos repetir. Toda vez que penso: "ai vou ter que explicar essa história toda outra vez", sempre fico encucada pelo fato de muitas pessoas AINDA não entenderem o feminismo. Gente, é moleza.

Agora está desenhadinho pra vocês. Não preciso nem de um comentário sarcástico adicionado.

Mas tudo bem. O problema é que nós somos obrigadas a repetir umas duzentas coisas - a definição de feminismo, porque cantadas na rua não são legais, o que tem de errado em culpabilizar a vítima de um estupro, a importância da mulher negra na luta pra o feminismo e mais um monte de outras coisas. Mas agora imagina você acabar de explicar um monte de coisas bem bonitinhas, e está tudo certo e legal e tudo mais e de repente - BAM MAIS UM COMENTÁRIO MACHISTA QUE VOCÊ TEM QUE TENTAR RESOLVER.
Isso cansa, é claro. Tem dias que estou cheia de paciência e explico para amigos/interessados/pessoas aleatórias para melhorar, num tom bem paciente. Às vezes é quase como ensinar um bebê. Mas tem dia que simplesmente não dá para aguentar.




É bem assim mesmo.

E lá vai você de novo começar o discurso. Eu sei que é chato - nem eu gosto de ter que repetir a mim mesma. Mas toda vez que penso - é para uma causa maior. É para conseguir melhorar alguma coisa. Se a cada mês eu estiver conseguindo educar pelo menos uma pessoa, meu trabalho já vale a pena. Pode ser pouco - mas é de pouco em pouco que conseguimos mudar o mundo, não é mesmo? Ninguém consegue mudar isso sozinho.

Eu queria concluir o post com um pedido: um pedido simples. Da próxima vez que alguém vier falar de feminismo para você, por favor, não revire os olhos. Não faça cara de nojo. Se fosse irrelevante, nenhuma de nós estaria fazendo isso - e no entanto, a cada comentário machista/sexista/homofóbico/etc que vejo, é difícil ficar calado. Ou melhor - não vou ficar calada. Basicamente, o movimento existe porque quando alguém fala de feminismo, os outros revirem os olhos.
Não revire seus olhos.
Essa porcaria é importante!

-de alguém que está cansada de ter que repetir a mesma coisa
L

ps: todo esse post foi causado por ver alguém no twitter reclamando de um aplicativo em que se avalia quão bonitos caras são. "se fosse do sexo oposto taria todo mundo reclamando". ESTARÍAMOS SIM PORQUE JÁ DEU DESSA MERDA SEXISTA OK
ps2: não concordo com nenhum tipo de aplicativo, mas já percebeu que agora os homens ficam todos revoltados quando acontece com eles? Pois é, bem vindo ao lugar em que a sociedade te faz se sentir um lixo - uma coisa que a maioria das mulheres tem que enfrentar todos os dias.



segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Date whoever the fuck you want.


Um dos meus textos favoritos é aquele famoso "Date a girl who reads". Como uma garota que gosta muito de ler, e escrever - e passa boa parte do dia fazendo isso, me identifico muito com ele (por serem as coisas que eu mais gosto nas pessoas que leem). Atire a primeira pedra quem não foi chorando pedir colo para a mãe quando seu personagem favorito morreu.

O fato é, porém, que por mais bonitinho que esse texto seja, acabamos naquele eterno estereótipo do tipo "ahh, ela é diferente das outras", uma mania que ultimamente nossa sociedade vem adquirindo. Todo mundo quer ser especial, todo mundo quer ser diferenciado. O problema é que ao diferenciarmos um - e adicionar um louvor incomparável, por exemplo, a uma garota que lê muito, acabamos desprezando as garotas que não gostam de ler. E isso é muito errado!

É isso mesmo. Errado. Botão vermelho na sua cara. Acabamos criando uma cultura - e vou deixar num cantinho aqui as garotas dos livros do John Green - em que valorizamos algo que na verdade não existe, ou acabamos criando pessoas extremamente babacas, que se acham melhores que as outras por algum motivo idiota. "Ah, eu sou tão especial, eu amo ler!". PAUSA EM TUDO. VOU DIZER ALGO CHOCANTE.

GOSTAR DE LER NÃO TE FAZ ESPECIAL!


Eu sei, parece ofensivo, mas é a verdade.


Espero que você tenha sentado, eu sei que é uma notícia realmente chocante. A nossa própria cultura faz uma glorificação estapafúrdia de coisas, colocando tudo em ordem errada. Ao invés de dizer "ah eu gosto muito de ler", acabamos dizendo "eu sou tão diferente, gosto de ler". Tudo bem. Talvez seja diferente. Talvez não. Mas você está atribuindo valores errados a todas as coisas. Todo mundo deveria poder gostar de fazer o que bem entender. Tem garotas que gostam de moda e sapatos, e taxamos-as automaticamente de "patricinhas" ou algo do gênero. Mas é o que ela gosta de fazer, e daí? E se ela gosta de ler a Vogue e ver todas as roupas bonitas, etc? Não tem absolutamente nada de errado com isso.

Serve pra tudo, na verdade. Eu gosto de filmes de ação, de ler e de cozinhar. Conheço meninas que gostam de Vogue e filmes de terror. Outras que gostam de motos e tutoriais de cabelo e maquiagem no youtube. Outras que gostam de ver filmes cult, tomar starbucks e de filmes do George Clooney. E a resposta final é: e daí? Cada uma dessas meninas não é uma "garota normal", mas o fato é que o normal pra todas as garotas é gostar do que elas bem entenderem, sejam coisas consideradas diferentes ou mainstream. E ninguém deve dizer que o gosto de alguém é errado, ou menosprezar outras pessoas por causa disso.

E o problema maior ainda é que isso é um standard que meninas colocam sobre outras meninas, ou impõe sobre as outras. Ninguém, por alguma razão oculta, quer ser taxada de "normal". Mas não tem nada de errado em ser normal - de fato, se você fizer uma coisa porque você gosta dela, é a coisa mais legal do mundo. Não precisa querer ser diferente - ou no caso, melhor - você só precisa querer ser feliz.




Resumindo, vamos parar com essa coisa ridícula de taxar alguns hábitos de melhores/piores do que outros. O fato é que possuímos hábitos diferentes e gostamos de coisas diferentes, mas como a tirinha mesmo diz - todas nós somos awesome, independente do que gostamos de fazer. O normal é ser diferente e gostar de coisas diferentes - e isso não é errado, só se você menosprezar os hábitos dos outros, também.  E ao invés de incentivar um "namore com uma garota que goste de ler" ou qualquer estereótipo do tipo, namore com quem você bem tiver vontade, oras.





quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Fantastic Spin-offs & where to find them


No começo dessa semana J. K. Rowling anunciou que irá escrever o roteiro de uma nova série de filmes, baseado no seu personagem Newt Scamander e no livro que acompanha Harry Potter, "Fantastic Beasts & Where to Find Them". E eu, como fã hadcore de Harry Potter, comecei a comemorar e tudo mais quando de repente tive aquela sensação de que alguma coisa estava errada. É, eu sei. Como pode alguma coisa estar errada quando se trata de Harry Potter?

E aí eu me lembrei que é porque, na essência, eu sou contra spin-offs de qualquer tipo.

Como eu estava discutindo com outro amigo meu que também sente o mesmo sobre o assunto, nós dois estamos com o pé atrás. Mesmo sendo J. K. Rowling, fico um pouco receada que algo vai acontecer e estragar tudo. E ao mesmo tempo, temos a oportunidade de aproveitar um pouco mais o mundo bruxo - e como podemos dizer 'não' para uma coisa dessas?

O fato é que eu sempre acho que spin-offs é uma maneira de ganhar mais dinheiro de uma coisa que já devia ter concluído. Isso não acontece necessariamennte só com spin-offs - muitas vezes, dentro de próprios livros. Quantas sagas já não lemos por aí que não precisavam de todos aqueles 128109272 livros para contar a história inteira? (Vou citar algumas aqui pra vocês partilharem de sua raiva: Crepúsculo, Hush Hush, Imortaise House of Night são algumas delas). Eu sempre faço um desafio a mim mesma - consegue contar o essencial da história em menos do que dez frases? Se sim, o livro não precisava ser uma saga. Me desafie qualquer dia desses que consigo fazer na maioria das vezes.
Mas então, pra que todos aqueles benditos livros e continuações desnecessárias?


ver também: como fazer três filmes que duram duas horas e meia cada com um livro que tem literalmente menos que 300 páginas


É uma forma de vender. Por pura e simples vontade de ganhar mais dinheiro. E agora você pode falar - "ai Laura, mas que hipocrisia, todo mundo quer vender seu trabalho", e eu vou concordar com você. Mas que não deixa de ser um abuso, isso é. House of Night tem literalmente doze livros, e um com menos história que o primeiro, mas você simplesmente quer chegar até o final. E o que acontece? Você é obrigado a comprar onze livros que você nem gostou tanto, só porque quer chegar ao final da maldita série, que no final das contas nem é tão boa assim. O fato é no que a indústria de entretenimento não pode abusar de umas coisas, ela abusa em outras - como spin-offs, séries que não acabam nunca, capítulos desnecessários de novela só com enrolação, séries de filmes de hollywood que deviam ter acabado nos anos 80 e assim por diante. Imagina só o horror de ficar tendo que ver anos e anos uma coisa que não acaba nunca, pra chegar no último capítulo da novela e descobrir que aquela porcaria NÃO TEM FIM??????


Mas nós, leitores e seres humanos, gostamos de uma conclusão. Quando você começa a ler uma história, você sempre pensa: "nossa, mas como é que isso vai acabar?", e por mais que você fique triste e deprimido quando acaba, ao mesmo tempo você sempre pensa "esse final foi muito bom". E pronto: você tem uma conclusão. Nós basicamente vivemos para a conclusão - nascemos, vivemos e morremos. E daí dependendo do que você acredita, há uma outra vida depois, mas ela também possui conclusão de certa forma. Nós gostamos de coisas que começam e terminam, e que ao mesmo tempo nos deixam felizes com isso. Você não simplesmente se revira na cama, perguntando todas as noites se George RR Martin vai terminar de escrever 'A Song of Ice and Fire' antes de morrer? Porque você também quer uma conclusão, você precisa saber quem ficou no Trono de Ferro no final. É imprescindível para sua vivência. E quantas outras coisas, com todo mundo - livros, novelas, filmes, mangás. (Naruto e One Piece mandaram um abraço nessa parte também. Sempre penso que não posso morrer antes de saber se Naruto virou Hokage ou não). Resumindo bem, então, por mais que não gostemos de que as coisas acabem, gostamos de saber como e porque acabam. Porque é o ciclo natural da vida.


Ao infinito, e além!!!
(Não, péra, acaba logo com isso aí meu deus)


E spin-offs deixam qualquer um maluco por causa disso. Harry Potter acabou - e ao mesmo tempo ficamos tristes e felizes com isso, aquele nó esquisito na nossa garganta e o aperto no coração - e vem um babaca (tipo a Warner Bros) querendo pegar e fazer mais dinheiro dos nossos sentimentos. Porque se você acha que eles se importam por quanto amamos isso e tudo mais, você está se iludindo. É dinheiro mesmo as custas de Harry Potter que eles querem. Dinheiro as custas de qualquer coisa. E é por isso que spin-offs me deixam tão brava. Eu quero uma conclusão, eu estou feliz vivendo com ela - e de repente, BAM! tiram toda minha felicidade. Porque querendo ou não, eu me sinto na obrigação de ver também o que acontece. Sejam pre-quels ou se-quels ou spin-offs, é uma extensão que você é obrigado a ver. Até é uma das razões pela qual me irritei muito quando a Cassandra Clare anunciou que serão 5 séries de shadowhunters. CINCO???? VOCÊ FICOU MALUCA???


Vou extorquir todo seu dinheiro e força de vida!!!!! 
você vai chegar aos 70 anos sem ter lido tudo!!!!!
MUAHAHAHAHHAHAHAHAHA


E ainda por cima eu sempre fico com aquele medo horrível de que vão acabar estragando tudo no final. Não só alguns estão tentando ganhar na cara dura - ahem, Cassandra, ahem - como dá aquela sensação que simplesmente não querem pensar em algo novo. Uma velha história de "ah, já criei esse universo aqui mesmo, vou continuar com ele já que fez sucesso e preciso pensar em menos worldbuilding". E eu não gosto nem um pouquinho disso. Pior de tudo? É que é bem capaz que eu leia as cinco séries de shadowhunters que vão sair. (não me levem a mal, eu adoro os livros da Cassandra. Pelo menos os três TMI originais e o TID. Agora os outros não sei, né? Que fazer por dinheiro tá fácil!). Outro que também fiquei com muito pé atrás foi "Os Heróis do Olimpo", do Rick Riordan. Ele conseguiu fazer um plot bom e personagens bons também, mas Percy Jackson já não havia tido uma conclusão épica?  Isso vale pra tantos exemplos, mas TANTOS,que fica difícil contar. E a idiota aqui continua lendo e comprando.
O problema é que tá cheio de autor fazendo isso o tempo todo - e apesar de que gosto da maioria deles, sempre fico com a sensação de estar sendo explorada. De as pessoas estarem sempre me dando mais e mais e mais, e nem perguntando se eu QUERO tudo isso. Sabe aquela tia que fica pondo creme de milho no seu prato, e falando 'come'? Você pode adorar creme de milho, mas tem horas que você também quer ver o fim dele, e nem aguenta mais comer. Na verdade, fins são algo saudável e importantes para que possamos manter nossas sanidades mentais sem precisar pensar "MEU DEUS, NÃO POSSO MORRER SEM VER O FINAL DISSO".

A única coisa que provavelmente nenhum de nós vai ver o final.
Tipo, nunca.


As e-novellas e contos são uma extensão legal para essa parte, pelo menos. Elas incluem no mesmo universo mas são histórias bem menores, e que não importa para a história se você ler ou não. Algo adicional, para você aproveitar quando estiver com saudades, ou querendo um pouquinho mais. Tudo bem que cobram por esses também - mas como eu disse, autores tem que vender seu trabalho. Mas só gostaria que as pessoas começassem a distinguir a diferenças entre vendas e exploração, e ver como são coisas bem, beeeeeem diferentes.

Porque na maioria das vezes, spin-offs é uma exploração emocional das baratas. Um tipo de aviso em neon dizendo: "SIM VOCÊ QUER MAIS", quando na verdade você nem parou para pensar direito no assunto. Tipo quando oferecem chocolate de graça, e você come sem pensar duas vezes - e isso as vezes resulta numa enorme e gigantesca dor de barriga que faz você rever todas suas escolhas de vida. Spin-offs são chocolates de graça. E que podem ou não dar dor de barriga depois. Quero uma vida por mais qualidade de histórias, menos enrolação e mais finais decentes - é só isso que estou pedindo. Seu livro precisa de 15 livros? Escreva 15 livros, desde que seja esse seu objetivo, e não ganhar em cima de uma exploração abusada dos outros. Então quando se aproximar dum spin-off e de qualquer outra coisa, só peço que pensem um pouco com cautela, porque o que pode ocorrer na maioria das vezes são alguns corações quebrados e uma dor de barriga e arrependimento metafóricos.

de alguém cujo coração sofre demais com finais e também coisas sem finais
-Laura


Algumas observações finais:

  • Mas eu nem sei que diabos é um spin-off. Aqui está uma explicação e uma breve lista de todos os que foram feitos. (Fui olhar essa lista e meu deus, é infindável!)
  • Eu fiquei pensando como na verdade spin-offs também fazem parte da nossa natureza, como devoramos todos eles como uns doidos. Cheguei a conclusão que o primeiro provavelmente foi o Hobbit - mas pelo menos o Tolkien não está nos fazendo torrar dinheiro com isso (enquanto não posso dizer o mesmo do Peter Jackson). Aí parei pra pensar mais a fundo e percebi que o primeiro de todos os spin-offs da humanidade é a "Odisseia" - aliás, bem melhor que a Ilíada.
  • Porque eu continuou fazendo metáforas com comida? Eu também não sei.
  • O título do post acabou ficando nada a ver, uma vez que não mostrei onde encontrar spin-off bom nenhum. A melhor solução é abandoná-los antes que sofra um colapso emocional ou tenha falta de dinheiro.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Através do espelho

Antes de achar que esse post é alguma coisa a ver com Alice através do Espelho, pode parar. É que eu gosto de reference humour mesmo e achei um título válido para o assunto de hoje. E o assunto do dia é tadada: o feminismo do outro lado do espelho. Ou melhor dizendo: porque os homens também precisam de feminismo?

O assunto surgiu quando um amigo meu reclamou que rebloguei um post no tumblr falando que ninguém reclamou do Justin Timberlake fazendo um vídeo com uma mulher pelada e o novo clipe da Miley Cyrus, "Wrecking Ball", ela aparece pelada e todo mundo reclamou e disse que ela era vadia e tudo mais ou que precisava curar a celulite. E ele me disse que muita gente reclamou do clipe do Justin sim, e minha explicação foi que é muito diferente falar do clipe do Justin "Que rude da parte dele usar a imagem de mulheres nuas, é um desrespeito" e um "nOSSA ESSA MILEY É UMA VADIA MESMO AI SE ELA TIVESSE UM NAMORADO DECENTE ELA NÃO IA FAZER ISSO NUNCA MAIS", mas não é o caso do post de hoje. O caso do post de hoje, na verdade, é dar uma olhada como os homens também sofrem com os valores gerais dessa sociedade.

Sei que é moleza culpar a sociedade por tudo. Mas a educação começa aos poucos, então vou mudando um por um até chegar enfim na sociedade. Então o que eu tentei hoje foi tomar o ponto de vista do homem com relação a tudo isso. (Mil agradecimentos ao Gabriel, que também me faz enxergar as vezes as minhas desigualdades).

Começamos com a simples discussão básica dos padrões de beleza irreais. Se nós mulheres sofremos com as coisas, não quer dizer que os homens também não. (Quem nunca comparou os colegas de sala ou amigos com o Brad Pitt ou qualquer ator de sua preferência e ficou desapontada com os resultados, atire a primeira pedra!). Já fiz isso, claro. Mas nunca tinha parado pra pensar que na verdade os garotos também sofrem com isso - eles, o Brad Pitt, nós a Angelina Jolie. Na verdade, a única vantagem para eles é não precisar gastar 100 reais em um rímel. Provavelmente isso vai ser gasto num shampoo ou pós-barba ou sei lá o que. O fato é que criamos um padrão bem absurdo e que as pessoas tendem a seguir - e querem ser parecidos com as pessoas. Pode até ser que as vítimas de anorexia no geral sejam mulheres, mas não podemos ignorar o resto do gráfico e fingir que não existe? A solução é pegar leve, no caso. Ninguém é bonito ou perfeito ou vai ter um nariz ótimo. Somos todos pessoas normais. E relativamente bonitas, e que deveríamos ficar confortáveis com nossos próprios corpos - e não deixar alguém ditando se você está bonita ou não. Um exemplo? Listinha de garotos/garotas mais bonitas da sala pregada na parede, quando você está na 5ª série. E o fato que às vezes dói mais ser chamado de feio e gordo do que de burro. Olha aí os conceitos errados que passamos. (E nem é nossa culpa! Ele simplesmente existe! Como se fosse por geração espontânea!)

As estatísticas de violência doméstica e abuso sexual também são completamente outras quando pensamos no assunto. Criamos os homens para "serem fortes" ou sei lá mais o que - resultado? Homens tem vergonha de denunciar quando sofrem abuso sexual. Abuso é violência e tem que ser denunciado, mas ficam com medo de serem chamados de "fracos, mariquinhas, menininhas". É horrível e é completamente errado. Toda vítima de abuso tem que ser tratada igualmente - como um ser humano.

Outra coisa irritante - caras serem chamados de "menininhas" quando estão pulando fora de alguma coisa. Tem um sentido totalmente negativo, como ser mulher fosse uma coisa ruim. Ou que "fazer coisa de mulher" é ruim. Definimos por padrões o que é de mulher e de homem separadamente, e se quisermos sair dessas esferas, somos julgados. Pelas coisas mais simples como homens gostarem de cozinhar e mulheres gostarem de carros. Ou pelo fato de meninos que sofrem por não gostarem de esportes ou futebol - sempre parece que alguém da família vai cair matando. (Esse é um post para gender roles, mas vou colocar aqui porque homens também sofrem com isso. Ninguém merece ser xingado porque gosta de assar biscoitos!)

Lembra de mim????
É estranho pensar que High School Musical foi um dos maiores filmes sobre superar gender roles. E no entando as pessoas continuam a dizer que é um filme idiota. Pois é!

Outra coisa que também discutimos foi a falta de apoio ao combate ao câncer de próstata. Enquanto temos milhares e milhares de camisetas e afins para o combate ao câncer de mama (mesmo algumas ofensivas, como 'save second base!), a total falta de interesse pelo outro lado também afeta muito isso. Não temos propagandas, ongs nem quase nada a esse respeito. É válido lembrar que isso também é importante (E se eu não fosse provavelmente ficar recebendo cantadas e sendo desrespeitosa, provavelmente acharia bem válido uma camiseta com 'save the dicks!'). A única iniciativa que conheço sobre o assunto é o Movember; e os bigodinhos acabaram virando moda hipster e perderam muito do significado inicial. Pena ):

A lista é infindável, na realidade. Encaixamos homens em padrões assim como encaixamos mulheres - e apesar de que, estatisticamente, tudo afeta as mulheres bem mais, também não podemos esquecer das outras "minorias" também afetadas. Não adianta lutar pelo white-feminism quando tem uma outra porção de gente que também precisa de ajuda nisso. E o motto do feminismo não é igualdade? Vamos colocar uma igualdade aí no meio.

 





Feminismo, é sim, praticamente 80% dirigido a mulheres - no geral por sofrerem mais, ganhar salários menores, etc etc. Mas feminismo é acima de tudo sobre a igualdade entre tudo e todos - e eles também merecem tanto quanto nós. 

São pequenas coisas que vão se juntando aos poucos. Muitas vezes acabamos vendo a situação só pelo nosso lado, e não entendemos do que os outros reclamam. Sei que é difícil fazer isso - sair do seu espelho confortável e olhar pelo ponto de vista alheio. É um negócio que ninguém gosta de fazer - mas se não fizermos, nunca em absoluto vamos conseguir atingir a igualdade que tanto desejamos.


Outros links importantes

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Se Ofender é Mainstream


Não sei quem teve a brilhante ideia de toda vez que alguém posta um artigo ou alguma outra coisa na internet vem sempre comentar um famoso "não curti!!! achei ofensivo!!! apaga!!!!" e na maioria das vezes a única coisa que consigo ouvir, na realidade, é "mimimi".
É sério.

O problema na verdade não está em se ofender com os artigos, mas no fato de você se ofender com opiniões dos outros e mais algumas coisas irrelevantes. Já estamos grandinhos o suficiente para parar com o "opinião é igual bunda cada um tem a sua" para sabermos distinguir que algumas opiniões estão erradas, é claro - mas não impede as pessoas de tê-las. Na maioria das vezes, quando vejo um comentário ofendido na internet, a pessoa levou tudo o que o outro escreveu para o lado pessoal ou achou que era tudo culpa dela (leia-se: pessoas que se acham vítima de tudo).

O que me causou a escrever esse pequeno artigo foi uma daquelas pesquisas sobre pessoas molestadas nas ruas com "cantadas" e afins, e um monte de homens, na maioria, respondendo com um eterno: 'MAS EU NÃO FIZ NADA DISSO!!!! VOCÊS SÓ CULPAM HOMENS!!! NÃO SOMOS TODOS ASSIM!!!111!!!". Tá, eu sei disso, mas enquanto estivermos enfrentando problemas desse tipo com homens que insistem em molestar mulheres na rua passando a mão na bunda e gritando "gostosa" pra você, isso também vai ser problema seu. É inconveniente, desagradável e invade sua privacidade. Mas enquanto todos nós estivermos vivendo numa sociedade dessa, quer dizer que temos que fazer algo sobre isso e saber aguentar uma generalização.

Isso de se ofender acontece o tempo todo na internet - e não que muitas vezes uma outra ofensa não venha primeiro (A primeira vez que postei um vídeo no youtube o primeiro comentário que recebi foi "GAY!". Gente, gay nem É uma ofensa, vai aprender a xingar direito, vai, você é mais indesejado que feijão em pote de sorvete). E o problema maior é que na verdade, as pessoas continuam a se ofender e ofender e ofender e estarem o tempo todos indignadas com uma coisa ou outra.

O fato é, minha gente, que sua opinião/ofensa vale igualzinho a de todo mundo. E isso é pouco mais que nada, na verdade. Você é uma formiguinha no meio de sete bilhões de outras formiguinhas, e sua opinião é mais uma em sete bilhões espalhadas nesse nosso pequeno planeta. O que acontece, na verdade, é que você tem que parar de levar tudo pro lado pessoal - como se as pessoas estivessem aqui com o único propósito de te ferir - e pensar bem no que os outros estão falando. Não adianta postar comentários ofendidos em artigos cuja opinião você é contra. Não concorda? Vai lá e escreve um texto sobre o assunto, e PRONTO. Problema resolvido. Não venha ficar xingando pessoas por aí falando que "fulano é um babaca que opinião lixo me ofendeu um monte". Porque na verdade, se uma pessoa está querendo ofender você de verdade, ela vai pegar e xingar você e sua mãe (e isso, sim, você pode levar pro lado pessoal e xingar de volta!)


Significado de Ofensa

s.f. Comportamento ou discurso que faz com que uma pessoa seja vítima de injustiça; palavra que deprecia; que possui a capacidade de injuriar ou afrontar.
Ação que provoca lesão física.
Ação de agredir fisicamente; ato de visa o ataque; ofensiva.
Comportamento que demonstra falta de consideração; desacato. 
Ação de violar uma norma, preceito, regra etc; transgressão ou falta. 
Sensação que aborrece; sentimento de desgosto diante de algo ou de alguém indelicado e/ou insensível. 
(Etm. do latim: offensa.ae)


só pra dar uma avisada. o que quer dizer que é pra você não comentar cada vez que ver um artigo falando sobre alguma coisa e ir lá xingar e parecer que foi ferido por uma faca.
Tenho uma sugestão pra todas as pessoas que passam o dia fazendo isso:

Só um exemplo  - esses dias postei um artigo no meu facebook falando sobre "Dez leituras para idiotas". Achei um artigo interessante, apesar de ter algumas coisas equivocadas a respeito das leituras. Pra mim, se você está lendo e gostando, tá ótimo. Seja Ulysses ou 50 Tons de Cinza, eu não poderia ligar menos. Mas é claro que assim que rolei a página para baixo para ler os comentários apareceu um monte de gente ofendidíssima falando "nossa você é o idiota não lê nada fica julgando coisas etc etc). Mas isso é tema para outro post! Em resumo: em vez de gente comentando sobre "achei esse artigo errado porque não importa as leituras blablabla" e parecendo gente consciente parecia que o lugar tinha sido infestado pelas crianças do jardim de infância.



O que estou querendo dizer é que precisamos parar de levar todas as coisas que vemos a sério, e se ofender como se a pessoa que escreveu estivesse falando com você. É para um público generalizado, e você precisa aprender a analisar isso. Enquanto ninguém parar de levar as coisas para o lado pessoal, nada nesse mundo vai poder ser resolvido com pesquisas, honestidade, etc. Porque é claro, sempre vai ter um ser com vontade de comentar "gay!" ou "nossa você é um idiota mesmo seu lixo". Porque afinal de contas, ninguém aqui é melhor que ninguém.

E se você for ficar ofendido com esse post, saiba que:

  1. Não estou nem aí.
  2. Pare de levar tudo como se tivessem xingado sua mãe de 'vadia'. Ninguém aqui está fazendo isso.
  3. Minha opinião vale mais ou menos a mesma coisa que a sua. É só pra deixar você consciente de quando está sendo um babaca incoerente e tentar melhorar a vida de todos.

ps: Dessa vez estou sem artigos para compartilhar. O que é muito estranho, vindo de mim. Acho que ninguém quer ser o chato a falar pras pessoas pararem de levar tudo a sério. Meu Deus, pessoal, o Apocalipse pode estar chegando e vocês se importam com uma pessoa que disse que paçoca é ruim ou sei lá.



"Paçoca é ruim!!"
"Seu babaca de merda!!!! Merece morrer!!! Vou te denunciar no facebook!!!!!!!! Me ofendeu como paçoca todo dia!!!!!"